quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

As Musas do Cinturão de Órion (nova série de sonetos, não consta no livro)

AS MUSAS DO CINTURÃO DE ÓRION

I - Mintaka

A primeira cadente em seus enganos
De saudade, fez trevas por meu pranto
E despertou verdade por espanto,
Pois sem saber, seu tempo causou danos.

Não foi de tudo acaso tal segredo
Que partirá tão leve... lentamente
Escorre solta a chama breve e quente
Da paixão – a morada do meu medo.

São nuvens de menino, vão de morte
Que meu céu, tão anil, já balbucia;
Desvendei logo o busto... tanta sorte!

Toquei seu corpo: clama e silencia
Em paz... pude amiúde então obte-la
Brilhando – tão bonita e meiga estrela.

II - Alnilan

Minha segunda estrela tão medonha
Escolheu ficar bem no centro, mas
Prefere amar ao longe e tanto sonha
Em mostrar-se soturna e mui sagaz.

Sinto um quebranto apavorado e triste,
Pois amor maior não há... tanto insiste
Em provocar! Que tanto existe mar,
Se o mar é só pedaço em teu luar?

Estás volátil pelo espaço dalva
E tudo em mim é tátil, mesmo a calva
Beleza lunar, tão calma e intangível.

Aceito tal indômita paixão
Por teu brilho fantástico e indizível
Que serei sempre em tudo gratidão.

III – Alnitaka

Debrucei meus pés sobre tua aurora
Sugerindo um suspiro de desgosto...
Sequei toda a dor que senti por ora
E sorri para a lágrima em meu rosto

Minha amada brilhava como Vênus
Nas noites estreladas de torpor...
O fato é que teus olhos são serenos
E, tal grandeza, tem belo sabor.

Deixarei num soneto peculiar
Toda métrica... toda compaixão
Do teu secreto e dissonante olhar

Caminho superando as ventanias...
Quero pensar no céu – nunca no chão!
Das estrelas, venero as três marias...

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